domingo, 10 de maio de 2020

A ATUALIDADE DE DONA FLOR

Em tempos de ânimos acirrados, de manifestações calorosas e discursos agressivos, cabe lembrar o romance Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado (1976). O texto de Amado expressa essa dubiedade da identidade social brasileira. Refletindo sobre, o sociólogo, crítico literário e professor Antônio Cândido de Mello e Souza (1918-2017) afirma: 

“Um dos maiores esforços das sociedades, através da sua organização e das ideologias que a justificam, é estabelecer a existência objetiva e o valor real dos pares antitéticos, entre os quais é preciso escolher, e que significam lícito e ilícito, verdadeiro ou falso, moral ou imoral, justo ou injusto, esquerda e direita política, e assim por diante. Quanto mais rígida a sociedade, mais definido cada termo e mais apertada a opção. E uma das grandes funções da literatura satírica, do realismo desmistificador e da análise psicológica é o fato de mostrarem, cada um ao seu modo, que os referidos pares são reversíveis, não estanques, e que fora da racionalização ideológica as antinomias convivem num curioso lusco-fusco”. CÂNDIDO, Antônio. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993, p. 47. 

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