domingo, 29 de julho de 2018

PORCO EMPALHADO: Isso é arte?

Em 1967, Nelson Leirner enviou para o 4º Salão de Arte Moderna de Brasília um porco empalhado num engradado de madeira com um presunto acorrentado ao pescoço, desencadeando um debate sobre o sistema e a mercantilização das artes, as instituições museológicas e a arbitrariedade do gosto dos jurados. O júri era formado pelos críticos de arte Clarival do Prado Valladares, Frederico Morais, Mário Pedrosa, Mário Barata e Walter Zanini. Alguns deles responderam ao artista pelos jornais, alegando que a obra fazia referência ao ready-made A Fonte, de Duchamp, e estabeleceu-se uma grande polêmica. O Porco tornou-se uma celebridade e chancelou definitivamente Nelson Leirner como um dos mais controversos artistas contemporâneos brasileiros. A obra foi adquirida para integrar o acervo da Pinacoteca de SP em 1980. 

Para compreendermos esses trabalhos é preciso entender que a arte contemporânea opera não com objetos ou formas, mas com ideias e conceitos. Ela não se reduz ao seu produto final, ou seja, a obra de arte, mas ela traz toda uma construção conceitual, resultado das experiências, das ideologias, das críticas, das influências do artista e do contexto em que foi feita. Em muitos casos, o objeto artístico nem é o mais interessante, mas sim todo esse processo. Assim, na arte contemporânea, há uma mistura indissolúvel entre a ideia e a obra, que precisam ser percebidas para que a fruição estética aconteça. 


O Porco, Nelson Leirner, porco empalhado em engradado de madeira, 83 x 159 x 62 cm, 1967, Acervo Pinacoteca SP.